Minha lista de blogs

quinta-feira, 31 de julho de 2014

REPRODUÇÃO, ENVELHECIMENTO E CASAMENTO CELIBATÁRIO.

Por Nicéas Romeo Zanchett
                   O casamento celibatário é aquele onde o casal, mesmo sentindo amor e atração, já não sente mais necessidade de sexo. 
                    Freud sempre considerou o homem como um animal sexual. Em seus livros, ele prega que o sexo é vital e que ninguém pode sobreviver sem ele. É evidente que essa afirmação é exagerada, pois o número de casais que vivem felizes e sem sexo é muito grande. 
                    Do ponto de vista biológico, o casamento é uma necessidade para a reprodução da espécie. (Quando falo a palavra "casamento" estou me referindo à vida conjugal de um casal). Por outro lado a reprodução sexual trouxe consigo a necessidade evolutiva da morte. É a clássica renovação que se dá para que o idoso ceda seu lugar a um jovem com capacidade para reproduzir. Sem considerar as implicações metafísicas ou religiosas do tema, há clara visão das razões naturais da morte e a necessidade para unir os sexos e garantir a continuidade da espécie. 
                   Os seres unicelulares - não sexuados - que povoaram os mares primitivos da Terra não tinham necessidade de morrer. Morriam apenas por razões acidentais, como mudanças nas condições ambientais e falta de alimentação. Os parentes mais próximos desse seres, que ainda hoje sobrevivem são as bactérias que, de certa forma, são virtualmente imortais, uma vez que nunca envelhecem. Já as células humanas cultivadas em laboratório não apresentam a mesma vitalidade. Reproduzem-se algumas vezes e depois morrem.  A diferença está no fato de que a bactéria é sua própria célula reprodutiva. Ela não precisa de sexo para passar seu DNA às próximas gerações; basta realizar uma divisão celular para produzir outra bactéria, exatamente idêntica a ela.
                   Entretanto os seres pluricelulares, que se reproduzem por meio do sexo como os humanos, são um tanto mais complicados. Seus corpos são constituídos de trilhões de células, com especificações distintas, que compõem diferentes tecidos e órgãos. Toda essa complicada máquina está a serviço de umas poucas células especiais chamadas germinativas - os óvulos e espermatozoides - que quando conjugadas produzem uma nova vida, garantindo que o DNA seja transmitido adiante. 
                   Na medida em que envelhecemos, a manutenção do corpo saudável torna-se cara, biologicamente falando. As células reprodutivas já cumpriram, ou pelo menos tiveram a chance de cumprir, sua missão e não há mais sentido em se conservar e deixar de se renovar. As células velhas acabam morrendo, em um processo chamado "apoptose" - morte programada -, uma espécie de suicídio celular.  Aos poucos o corpo como um todo vai envelhecendo e também morre. 
                    Do ponto de vista afetivo tudo é mais fácil  de entender. Ao envelhecermos os hormônios reprodutivos tendem a se acalmar. Há uma quietude natural que desvia as atenções para outros prazeres da vida. Tomemos como exemplo a mulher; o envelhecimento produz uma diminuição gradual da resposta sexual, embora mulheres em idade avançada sejam capazes de ter orgasmos. Pouco antes da menopausa começa a lenta redução dos níveis de estrógeno, afinando os tecidos da vulva - que demora mais a ficar lubrificada para a penetração. Daí a importância fundamental das preliminares, sem pressa, para aquelas que querem manter uma ida sexual ativa. Ao parar de menstruar, o nível de testosterona, hormônio responsável pelo desejo, se reduz em cerca de dois terços. O amor, antes forjado pelo intenso desejo, agora se torna fraternal, mas muito mais intenso. Nessas condições os parceiros podem tornarem-se celibatários e continuarem juntos e muito felizes. Há, no entanto, uma certa dificuldade quando um dos parceiros continua tendo desejo que não é satisfeito. Nesse caso, mesmo havendo forte amor fraternal, se torna difícil manter-se sexualmente desativado. A melhor solução é buscar alguém para parceria sexual, que pode ser de comum acordo entre os envolvidos. Uma parceira sexual é mais segura do que sair por aí buscando aventuras inconsequentes - os chamados "programas" -, correndo riscos por contaminações de DST.  
                   Quando somos jovens nossos pensamentos estão sempre ocupados com a sexualidade. É natural porque estamos na fase reprodutiva. Nesse período da vida, um casamento de muito tédio e pouco sexo, transforma o leito conjugal num templo de monotonia. 
                    Pesquisas recentes, apontam o sexo - heterossexual ou homossexual - como a área de maior atrito entre os casais. Mais de 90% das separações acontece porque não há mais entendimento na cama. As mulheres culpam os homens de as tratarem como objetos e esses se queixam da frieza de suas parceiras. Quando um casal - não interessa se homo ou heterossexual - tem relações, o que acontece na maioria das vezes é que cada um se preocupa com seu prazer sem pensar no parceiro.  No fundo cada um considera que o outro lhe pertence. Trata aquela pessoa como se fosse sua propriedade e não quer dividi-la com ninguém. Isso gera ciúme, irritação e brigas, muitas vezes extremamente violentas. Como resultado, a separação é inevitável.  
                   Depois do evento da pílula anticoncepcional, o sexo liberou os instintos individuais e passou a ser mais uma forma de lazer. Essa forma se transformou numa grande indústria sexual que envolve bilhões de dólares em todo o mundo. Com isso, as DST ganharam terreno e hoje matam milhares de pessoas pelo mundo afora. 
                    Todos envelhecemos e, portanto, todos seremos inevitavelmente celibatários. Alguns mais cedo outros mais tarde. O foco das prioridades muda radicalmente e o sexo, que antes era prioridade, entra para as estatísticas, como um prazer eventual e muito mais movido pelo amor fraternal do que pelo sexual. O grande problema surge quando um dos parceiros continua sexualmente ativo e o outro não. É muito comum que o não ativo tente, por amor fraternal, satisfazer seu parceiro, mas este poderá não aceitar, considerando que isso é um favor, uma espécie de violência contra o outro. 
                     O importante, para ser feliz, é saber aproveitar cada fase da vida. Manter a vitalidade até o final significa estar disposto e reavaliar constantemente seu modo de pensar sobre as coisas que fazem parte do seu dia-a-dia. E isto começa, por exemplo, desde o perfume e o sabonete que cada uma gosta de usar. Implica em permanecer aberto a novas experiências, enfrentar novos desafios, preocupar-se mais em apender do que em estar certo. Não importa se você está com 20, 50 ou 80 anos, a chave para pensar a vida está na flexibilidade. Manter-se envolvido e entusiasmado, em vez de deixar ser levado monotonamente ao sabor da correnteza; o caminho mais curto para embotar o cérebro é sepultar-se noite e dia em frente da TV, como se estivesse ali à espera da morte. O que nos mantém jovens e atraentes, à medida em que vamos ficando mais velhos, são os nossos interesses - ler, escrever, cozinhar, jantar fora, ir ao cinema ou teatro, viajar, cuidar de plantas e animais, ficar às voltas com as crianças e qualquer outra atividade de que se goste.  O ideal é encontrar alguém com quem possa dividir momentos felizes. 
                  Até recentemente os cientistas acreditavam que as células do cérebro, ao contrário das outras do corpo, perdiam capacidade de se regenerar - e milhares eram perdidas todos os dias. Isto significa que o cérebro, como o corpo, iria perdendo a eficiência com a idade. Estudos recentes, realizados por especialistas em envelhecimento, provaram que as células do cérebro e os neurônios podem regenerar-se sim. Cérebros continuamente expostos a um ambiente rico em estímulos - companhia inteligente, novos desafios, novas idéias - tem um desempenho melhor até do que cérebros jovens. Mantendo-nos ativos e pensantes, podemos conseguir que nossos cérebros continuem brilhantes e jovens até o último dia de nossas vidas. 
                Por tudo isso, vamos viver, amar, renovar, curtir a vida e não nos preocuparmos com o futuro da vida, cuja distância não conhecemos. 
.
Nicéas Romeo Zanchett 



Nenhum comentário:

Postar um comentário