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domingo, 14 de novembro de 2021

A VIDA AFETIVA DAS CRIANÇAS

 


             Os psicanalistas foram os psicólogos que maior importância deram ao aspecto afetivo do comportamento humano. A posição de Freud, focando o desenvolvimento individual, revela para ele o ser humano, ao invés  de ser racional, era mais um ser emotivo. 

           Os pais e professores sabem muito bem como o desprazer e a tristeza, a raiva e o medo, a angústia e o ciúme dos seus filhos ou alunos lhes causam preocupações e ansiedades. Boa parte de seus esforços existem  em vista de reações prazerosas e alegres das crianças  e adolescentes. Para controlar a vida emocional daqueles  que dirigimos, é necessário sabermos porque e como se estabelecem os sentimentos e emoções. 

            Como diz Sherman, mesmo aos 6 anos a criança "não exibe uma conduta de forma suficientemente típica para ser definida como uma emoção concreta, senão que exibe melhor respostas  gerais e inadequadas nas quais só se advinha uma vaga tendência  adaptativa". As reações humanas não podem ser rotuladas até que as experiências infantis determinem os modos típicos de reação. Isto é, os padrões reativos emocionais são aprendidos e não mera transformação dos impulsos primários, como espanto, choro, gritos, espasmos... A seguir temos uma síntese de dados; uma adaptação parcial dos dados de Geisell. 
              a/ O Medo é provocado em crianças de alguns meses por ruídos fortes, estímulos dolorosos e súbita falta de apoio. A criança prende a respiração e procura agarrar-se a qualquer objeto. São observadas, como reações fisiológicas, a constrição vascular periférica, queda de ritmo das batidas cardíacas e aumento do peristaltismo intestinal. (movimentos involuntários dos intestinos e esôfago).  
            À medida que a criança se desenvolve, o medo começas a revelar insegurança e incompetência. Quanto mais insegura, menos competente para solver os problemas e se adaptar às situações. O temor do fracasso eminente  a leva ao descontrole. 
       Lentamente, o medo vai sendo uma reação mais limitada a certas situações específicas e surgem reações de prudência, de cuidado e de aflição. Segundo a pesquisa  de F. B. Holmes, as crianças desde cedo adquirem a habilidade de controlar certos medos ante situações não de todos perigosas. Isto revela que felizmente elas conseguem superar as barreiras levantadas pela má educação dos adultos (medo do escuro, de ficar sozinha, de barulho, de duendes, etc.)
           b/ Numa criança de alguns meses, a cólera pode ser provocada pela coibição dos seus movimentos; ela prende a respiração, chora ou grita e enrijece os músculos. Quando frustrada, ela tende a destruir os objetos que se encontram à sua frente. Como o medo, a cólera se ramifica em emoções e sentimentos, e os mais notados são o  o ódio, o ciúme, o desprezo, o ressentimento e a vingança. 
             A distinção entre a cólera e o medo, que apresentam alterações fisiológicas semelhantes, está no fato de que o medo consiste numa incapacidade para a ação, com a criança "voltando-se para dentro de si mesma"; e no acesso de cólera, ou de raiva, ela se lança contra o ambiente, sem se sentir insegura. Embora provocada por frustrações durante o processo de ajustamento, a cólera  pode decorrer de causas internas: frustrações inconscientes, deficiências intelectuais, fadiga, sono, fome, doenças e aborrecimentos em geral. 
             Há também a considerar os sentimentos, e posteriormente as emoções de cólera, por motivos sociais. A pessoa pode não estar diretamente envolvida num acontecimento, mas pode participar por similaridade de opinião. Ela é levada a participar de um comício, a apedrejar sedes de partidos políticos, etc. De qualquer forma, não emerge tal emoção de uma causa apenas e não se revela  em adolescentes e adultos tal como a presenciamos nas crianças até os 3 anos. E é evidente que, do ponto de vista social, a raiva é um mecanismo que cria mais problemas à pessoa do que soluções para ajustamento. 
             c/ O prazer emerge quando da satisfação das necessidades orgânicas do bebê, ou pela presença de familiares. A agitação dos membros e o sorriso são algumas das características observadas. O organismo depois se relaxa e este relaxamento cinestésico leva a criança ao sono. No pré-escolar, além do prazer ser produto da satisfação das necessidades fisiológicas. é também das chamadas psicogênicas. Portanto, tal como o alimento, a aprovação social pode produzir as reações que vulgarmente denominamos alegres. 
                O prazer se ramifica em vários sentimentos e emoções, entre os quais são bem notados o amor, o júbilo e a afeição. A afeição e o amor podem surgir não devido exclusivamente às causas responsáveis pelo prazer. A afeição de crianças são reações prazerosas  associadas a brinquedos, animais e pessoas. Na adolescência, as pessoas estão em primeiro lugar como estímulos causadores de afeição; na infância, os brinquedos e animais. 
              As expressões emocionais na infância se manifestam de diversas formas, de acordo com a idade. 
              a/ Aos 2 anos já há um certo equilíbrio emocional. a Criança é tranquila, pelo menos mais calma em relação ao ano anterior. É tímida e colabora muito pouco  no jogo. Demonstra afeto pela mãe, principalmente na hora de dormir. Pode cuidar afetuosamente dos seus brinquedos. Tem ideia de posse de coisas, mas não sente ciúme das demais crianças. 
             b/ Aos 3 anos, a criança já é bem equilibrada. Feliz e satisfeita, se entretém tranquilamente. Tem domínio de si mesma, tanto emocional como fisicamente. É afável, serviçal e acessível. Pode demonstrar ciúme dos irmãos mais novos. Goza com os jogos de palavras e quando percebe algo errado que o adulto diz, sente-se alegre. 
            c/ Aos 4 anos o menino é tanto polemista quanto brigador. Nesta fase, tanto os meninos como as meninas mostram-se egoístas, rudes, impacientes com os irmãos menores. Expressam afeto pela mãe na hora de dormir (um beijo e um abraço"bem forte"). A criança de 4 anos pode sentir ciúme do pai e da mãe ao mesmo tempo. Sente-se orgulhosa dos seus próprios trabalhos e criações. Quando joga, ri sem reserva. Sente-se alegre quando houve ou faz rimas e jogos de palavras. Agrada-lhe chamar os outros pelo apelido ou trocando o nome. Insulta, profere algumas palavras obscenas e ameaça crianças de adultos. 
             d/ Aos 5 anos torna-se uma criança séria e acomodada. Afável, compreensiva, afetuosa, mais realista. É serviçal, orgulha-se do seu aspecto e de suas roupas bonitas. É curiosa e anseia por informações. Diz à mãe que gosta de ouvir histórias. Fica excitada quando lhe falam do futuro. Sabe o que quer e se atém ao que deseja. Costuma insultar outras crianças. 
             e/ Aos 6 anos torna-se sumariamente emocional. Acentuando desequilíbrio nas relações com outras crianças. Fica excitada quando a criticam. É expansiva. Ama e odeia a mãe. É brincalhona e se considera "sabichona".Gosta de elogio e da apreciação que fazem ao seu trabalho ou às suas "artes". Sofre acessos de cólera. Cai em pranto facilmente. Irritável, rebelde,dominadora, excitável, ri sem motivo. É conformista. Como é dominadora, acusa e critica os demais. Em certas horas, é carinhosa,  angelical, generosa, boa companheira para o adulto. Tem ciúme dos seus brinquedos e de outras crianças. Muitas vezes emprega linguagem agressiva; insulta, ameaça, contradiz, discute, emprega alguns termos obscenos. 
             f/ Aos 7 anos torna-se retraída e distraída, principalmente no lar. Apresenta ainda certo negativismo e uma certa insegurança para enfrentar os problemas diários. Começa a tomar atitudes de desafio, mormente em relação à mãe, quando ameaçada. Devido ao desenvolvimento mental (maior capacidade de inibir as próprias reações), começa a meditar sobre o que lhe acontece. Busca a perfeição e mostra-se encolerizada quando erra ou é perturbada pelos irmãos menores. Revela vergonha dos seus erros. É escrupulosa e menos egoísta. Começa a sentir e analisar as influências externas sobre seu comportamento. Já aparecem os devaneios nas horas de cansaço e insatisfação. 
            g/ Aos 8 anos se torna menos sensível, menos retraída  e voltada mais aos outros. Prefere os empreendimentos difíceis, mas revela impaciência consigo mesma. Continua se opondo às ordens da mãe. Chora menos por motivos internos que por razões sociais. parece mais interessada em discutir e tem melhor senso crítico. Ri sem preocupação com o que pensam os demais. Costuma ser serviçal na escola, gosta de competir com os colegas e pode chorar quando perde uma disputa. Quando há compreensão no lar, a criança de 8 anos é bondosa, companheira e empreendedora. 
           h/ Aos 9 anos já assume responsabilidades. É obediente. Costuma ficar apreensiva quanto aos seus possíveis tropeços na escola. Sua impaciência e os ataques de cólera são de curta duração. Tem vergonha de certos atos passados. Começa a julgar seus familiares. Sente-se orgulhosa em cuidar de suas próprias coisa. Reage emocionalmente ante todas as histórias que lhe contam.Torna-se muito sensível às críticas, deseja sempre agradar os mais velhos. 
              i/ Aos 10 anos torna-se simpática, feliz, tranquila, despreocupada, generosa e fraca. Sobretudo equilibrada, a criança nesta idade  deixa os pais preocupados, com medo que nos anos vindouros não seja mais assim. Gosta da vida. Tem mais ação que pensamentos. Revela pouco temor das coisas do mundo. Tem ataques de ira. Não aceita injustiças e manifesta suas opiniões. Esses ataques, todavia, são de curta duração. Nas expressões de alegria, revela a mesma eficiência. gosta do lar e quer receber os presentes que os amigos ganham dos pais. Diminui o desejo de competir. Gosta de piadas, mas não sabe contá-las muito bem. Tem um repertório de reações emocionais desejáveis para a prática de esportes em conjunto. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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