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sexta-feira, 11 de julho de 2014

A LIBERDADE SEXUAL E SEU LIMITE - Por Nicéas R. Zanchett

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                    Na medida em que o ser humano foi atravessando as fronteiras do tempo em busca da sua própria evolução, foi alterando as funções de cada sexo na vida pessoal e na sociedade. 
                    O homem, pela sua própria natureza, sempre sentiu fascínio pelo combate como forma de demonstrar sua bravura. Enquanto ele estava fora, seja na caça ou na guerra, a mulher estava se tornando independente dele. 
                    Durante a primeira Guerra Mundial, as mulheres foram convocadas a assumirem muitos papeis que até então cabiam aos homens. Foi nesse período e talvez por sua causa que, nos Estados Unidos, as mulheres ganharam o direito de voto. Já na Segunda Guerra Mundial, milhares de mulheres ocuparam cargos que tradicionalmente só homens ocupavam. 
                   Os transtornos das guerras também tiveram como efeito o movimento da população, separando ente-queridos e criando um ambiente para expressão mais livre da intimidade sexual. Essas forças colaboraram para provocar a anarquia sexual que acabou se espalhando pelo mundo todo que até então era puritanista. 
                   As relações entre os dois sexos nunca foram muito fáceis. Homens e mulheres, em muitas sociedades, foram educados para encarar o sexo oposto não como um complemento, mas como literalmente oposto. 
                    Estamos atravessando uma nova Revolução Sexual, mas tudo está ficando confuso e caótico. A verdadeira revolução implica em um movimento claro em uma direção que é compreendida e aceita pela maioria. No entanto, o que estamos vivendo é uma anarquia sexual onde homens e mulheres, em vez de se compreenderem,  se confrontam.
                   No passado, quase sempre existiam regras, padrões e papeis bem definidos para cada sexo, dentro dos quais cada um efetuava sua parte. Não vai longe o tempo em que a mulher, dona de casa e mãe de vários filhos, ia ao galinheiro recolher ovos e escolher uma galinha gorda para o jantar. Depenava, limpava e cozia ao gosto dos filhos e do marido. Usava o caldo para preparar bolinhos de massa com farinha que retirava de um grande saco com uma concha. Ia até a horta e colhia temperos e verduras. Descascava batatas e escolhia o feijão com as próprias mãos. Naquele tempo, que muitos de nós vivemos, não havia massas pré-fabricadas. O bolo e a cobertura tinham que ser feitos com ingredientes básicos. 
                   Nossa atual sociedade de consumo tem interferido de forma muito intensa nas relações entre os sexos. A dona de casa de nossos dias tem tudo pronto à sua disposição, mas parece mais ocupada que antigamente. Seu carro é instrumento indispensável. É com ele que dá muitas voltas fazendo compras, levando e trazendo filhos da escola ou de alguma atividade esportiva. Com a crescente influência do dinheiro e da publicidade, adquiriu um incalculável número de equipamentos e eletrodomésticos com os quais tem que se preocupar. Na verdade, talvez para preencher o vazio de sua vida, grande parte das suas atividades são por ela inventadas. 
                  O impulso na direção de maior liberdade na conduta sexual teve sua origem no profundo abalo, após as duas grandes guerras, com os processos de urbanização, maior mobilidade, proliferação de bares e ambientes apropriados para encontros e, principalmente, com o controle de natalidade ao alcance de todos. Em meio a toda essa mudança podemos observar não apenas alguma transferência de poder, mas um indício impressionante de que cada sexo está adotando alguma característica do outro. Muitas mulheres já não sabem agir como mulher e muitos homens estão igualmente confusos sobre como ser homem.  Ao mesmo tempo, muitos jovens rebeldes demonstram desdém pelas características sexuais tradicionais. Essa conclusão  a respeito dos papéis de cada um gera conflitos e preconceitos. Os novos esposos e esposas têm mais tensões e conflitos em torno dos papeis que cada um deverá exercer, principalmente sobre os filhos. 
                                 
                 A maior contribuição dos jovens hippies dos anos 60 ao pensamento moderno foi o rompimento com o convencional. Sua maneira de ver a vida ainda hoje nos faz sacudir, juntamente com as convicções que costumamos aceitar sem questionar. Eles tornaram desacreditada, pelo menos no meio da juventude, as velhas associações mentais como "o amor leva ao casamento e o casamento leva à prole". 
                 Apesar de suas formas sofisticadas, ainda reina bastante confusão entre a maioria dos jovens sobre as regras que regulam a intimidade entre os dois sexos. Se no passado s considerava a violação às regras, hoje já não existem regras. Não são as violações, mas a ausência de normas que torna o problema contemporâneo historicamente relevante. O problema de hoje é menos de revolta contra um código conhecido e implantado do que o de se estar debatendo em uma conjuntura cujos limites são praticamente ignorados. Cada indivíduo decide o que é melhor para si, sem se preocupar com o resto da sociedade. Na verdade, estamos num estágio em que os velhos padrões estão ultrapassados, mas não temos novos padrões que possam nortear os jovens. Os padrões que existem são o resultado de uma evasão padronizada. Os que desejam viver segundo princípios morais pelo seu consciente ficam perdidos; não sabem como proceder de forma que não se sintam como se estivessem marcando passo errado. Cada um tem que improvisar, perguntando a si mesmo quais serão os próximos passos. 
                   A confusão em que se encontra a geração mais jovem deriva, na maior parte, da incerteza da geração mais velha e da mistura de sinais com que as  duas gerações se comunicam. 
                   A educação sexual já deixou para trás a ênfase inicial dos detalhes da reprodução passando para a dinâmica dos papeis e relações entre os sexos. A meta geral da preparação para a sexualidade deveria ser a exploração de todo o campo de perguntas que surgem e permanecem sem respostas sobre a natureza do comportamento sexual dos seres humanos e sobre os papeis e relações entre os dois sexos. O sexo em si é apenas um ato, mas a sexualidade é um estado.
                  As opiniões sobre o que é próprio e o que não é no comportamento entre os dois sexos, foram profundamente influenciados, entre a maioria dos jovens, fora do lar. A velocidade de comunicação, as viagens internacionais e especialmente a internet mudaram os comportamentos de forma irreversível. 
                   No campo religioso, que sempre exerceu enorme influência sobre a sexualidade, também está havendo profundas mudanças. Com o avanço educacional, que conscientiza os jovens com novos conceitos, a população formalmente filiada a alguma igreja, vem sofrendo enorme baixa. Podemos notar que muitos membros do clero tem se esforçado para permanecerem modernos a fim de manter o interesse dos fiéis, especialmente os jovens. Os cultos foram invadidos por músicas de rock-and-roll e os templos construídos em formas arquitetonicamente modernas.
                   O cristianismo enfatizou fortemente tanto a fidelidade conjugal como a castidade pré-conjugal. Para o cristão a vida moral era uma reserva em todas as formas de intimidade física, mas principalmente as que não fossem acobertadas pelo casamento. A castidade da noiva era a garantia de que depois de casada se manteria fiel. Assim, a essência da moralidade era mantida pela repressão sexual. Os primeiros cristãos viam na mulher a causa primordial do "pecado sexual". São Paulo, em especial, glorificou a austeridade em assuntos de natureza sexual. Ele declarou textualmente: "É bom que o homem não toque na mulher..., mas se não tiverem autocontrole, que se casem, pois é melhor casar do que arder de desejo."
                  Nos últimos anos tem havido um movimento no sentido de uma aceitação real do ideal igualitário. Essa herança da Revolução Francesa gerou tendências constantes no sentido do liberalismo político, principalmente no Ocidente. Não é mais concebível que uma pessoa possa aceitar a lógica de glorificar o ideal igualitário e ao mesmo tempo manter a mulher no plano subordinado. 
                  O declínio dos casamentos combinado com o desenvolvimento do conceito de amor romântico também foram fatores que fortaleceram a posição da mulher em relação ao homem. O homem apaixonado por uma mulher, sem dúvida, lhe concederá mais poder. 
                  O igualitarismo sempre glorificou os direitos do indivíduo. Quando levado ao extremo da lógica, essa entronização do indivíduo tende a prejudicar as normas coletivas e mesmo a implicar em um tipo de anarquia como ideal. Nesse caso, o indivíduo passa a ser a norma. 
                  A violação dos direitos do indivíduo pela sociedade moderna leva a indagações mais desconcertantes na área das relações entre os dois sexos do que em qualquer outra área explorada. É preciso tomar cuidado para que o individualismo nas relações entre os dois sexos não acabe se convertendo em um primitivismo irresponsável e pernicioso à sociedade e ao próprio indivíduo. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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SE VOCÊ GOSTA DE CULTURA LEIA > AS CARTAS DE BALZAC
Trata-se de um estudo profundo que estou fazendo sobre a vida desse gênio da literatura mundial, em todos os seus detalhes, e parte da sua grande obra "A COMÉDIA HUMANA". É um trabalho realmente longo, mas, aos poucos, estou disponibilizando na internet. O objetivo é viabilizar, em parte, o profundo conhecimento que Balzac tinha da alma humana. 
Nicéas Romeo Zanchett, 

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